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M.M. Izidoro

Carnaval serve para esquecer convenção social para nos sentirmos bem

ECOA

22/02/2020 04h00

No ano 604, o Papa Grégorio I resolve criar a Quaresma. Para quem não segue as palavras da Bíblia, a Quaresma são os 40 dias de privações antes da Páscoa para limpar corpo e espírito. Os católicos da época, como bons humanos vida loca que eram, resolveram aproveitar os dias antes da Quaresma para se deliciar aos prazeres da carne. Tanto no metafórico, quanto no literal. Assim foi criado o Carnivale, que traduzido do italiano quer dizer, festa da carne.

Para muitos, essa é a origem do nosso Carnaval. Uma festa para meter o pé na jaca antes de obedecer às regras estritas impostas pela sociedade.

E é por isso que eu gosto tanto da ideia do Carnaval.

São nos quatro dias de Carnaval que nós esquecemos praticamente toda convenção social para apenas nos sentirmos bem. Alguns com excesso, outros não. Mas é entre sábado e terça feira que nós deixamos todas as amarras e regras que seguimos o ano todo, para apenas sermos felizes.

Essa ideia sempre existiu entre os humanos. Mesmo a ideia do Carnaval em si tenha vindo de uma tradição católica, os gregos e romanos já faziam festas para os deuses Pan e Baco, onde música, bebida e prazer eram a tônica.

Esse rituais de escape são importantes para qualquer sociedade funcionar, pois não dá para cobrar e pressionar alguma coisa infinitamente sem esperar que essa coisa quebre. Isso é certo tanto nas leis da física, quanto na nossa saúde mental.

Óbvio que durante o ano temos nossas pequenas válvulas de escape. Seja aquele jogo de futebol, aquele show da sua banda favorita e o que mais você quiser fazer para esquecer os boletos.

Desses rituais de expurgo, o que eu mais gosto de verdade é o Dia Fora do Tempo. Esse é o dia que cai ali entre 25 e 26 de julho todo ano e é considerado o ano novo maia. Os maias, foram um povo muito avançado e eles seguiam um calendário lunar de 13 meses com 4 semanas de 7 dias. Isso fazia com que a lua sempre mudasse de fase no mesmo dia e dava para controlar melhor as plantações e no geral estar mais conectado com a natureza.

Se você é bom e rápido de matemática, já percebeu que 7 vezes 4 vezes 13, dá 364. Como a Terra demora 365 dias para dar uma volta completa ao redor do sol – e sempre fico surpreso como esses povos se tocaram nisso – os maias inventaram um dia a mais que não contava na contagem oficial de dias do calendário. Então, nesse "dia fora do tempo" dava para você fazer o que quiser que tava tranquilo. Claro que a ideia era de fazer uma limpeza física e espiritual para o novo ano, mas né… aquela cervejinha de milho não vai se beber sozinha.

Por isso que os clichês do Carnaval ser a festa do povo, uma festa democrática, uma festa onde ninguém é de ninguém, que o ano só começa depois do Carnaval, são reais e importantes para nós.

Você pode odiar Carnaval e ser o único ser sem glitter desse pais inteiro, mas com certeza nesses quatro dias, você vai tirar um tempo para você para relaxar de tudo aquilo que tá te pressionando na sua vida e se preparar para o ano "começar de verdade" depois do meio dia na quarta feira de cinzas (que todo mundo sabe que só vai ser na segunda-feira, né?)

O Carnaval serve para isso. Para esquecermos as ideias sociais de castas financeiras, de cor, de gênero, de sexo. Serve para a gente trocar afeto e prazer. Para a gente dançar e deixar aqueles desejos mais puros e animalescos tomem conta da gente. Serve para a gente esquecer tudo que passamos  nos outros 361 dias Serve para a gente ser feliz. Nem que seja de sábado a terça.

Nesses tempos de extremismos, cada vez mais a gente perde essas ideias e essa importância da festa para o coletivo. O Carnaval e as fantasias que a gente usa nele, são importantes para a gente viver tudo aquilo que fica reprimido e que podemos ali soltar.

Estamos aprendendo a fazer isso com mais respeito, com menos exagero e até com menos violência. Mas não podemos esquecer que essa festa é a liga que conecta o Brasil inteiro e que faz desse pais uma das nações mais felizes do mundo apesar de tudo que acontece aqui.

Agora joga o glitter no corpo, deixa o celular em casa, pega dinheiro vivo pra comprar seu drinks e vai ser feliz. Pois, como Chico e Elis já cantavam: 

"Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
Que você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser"

Sobre o Autor

M.M. Izidoro é contador de histórias e criador da campanha #EuEstou, para promover a saúde mental e a prevenção do suicídio entre adolescentes no Brasil

Sobre o Blog

A cada 15 dias, vamos contar notícias boas da vida real que aconteceram com gente de verdade como eu e você